
Estudos sobre a educação para as relações étnico-raciais na formação de professores de química: a experiência do Coletivo Ciata
Apesar de superado nas teorias das ciências naturais, o conceito de raça, como atributo construído socialmente no tempo e no espaço ainda funciona como parâmetro de alocação de pessoas na estrutura social e muitos dados poderiam representar essa afirmação, como, por exemplo, um jovem negro ser assassinado no Brasil a cada vinte e três minutos. As ações afirmativas surgem com estratégia de combate ao racismo e podem ser colocadas em prática em todo âmbito da sociedade civil, pois objetivam, principalmente, desfazer a estruturação social que dirige negros e negras a posições econômicas e simbólicas desprivilegiadas. As políticas de ações afirmativas para além de reconhecer o racismo, a discriminação e todas as mazelas sofridas pela comunidade negra, caminha no sentido da real transformação desse quadro, que significa colocar negros, negras, brancos, brancas e todos os grupos raciais em igualdade e dignidade mediante as suas diferenças. O presente trabalho se configura como uma ação afirmativa tendo como objetivo discutir e refletir sobre a seguinte questão: como se pode incluir a educação para as relações étnico-raciais na formação de professores de Química? Essa investigação se construiu sob o enfoque epistemológico da afrocentricidade, no qual as pessoas de África e da diáspora devem ser o centro do estudo dos fenômenos sociais, portanto, protagonistas de sua própria história. O trabalho foi desenvolvido pelo viés da pesquisa-ação em dois ciclos em disciplinas planejadas e executas pelo Coletivo Ciata. Os turnos de discurso foram obtidos por registro fílmico e, posteriormente, transcritos e analisados, em cada ciclo, por meio do referencial de análise da conversação. Nossos resultados mostram que planejar e executar uma aula de Química pensando no deslocamento epistêmico demandou conhecimentos que foram suprimidos de nossa grade curricular na formação inicial o que demandou pesquisa e formação em serviço tanto de alunos e orientadora. O professor de química lida com uma escola real que é reflexo da sociedade em que está inserida, logo, a formação deste profissional deveria prepara-lo para também compreender o fenômeno do racismo na escola e saber como agir quando ele se apresentar em seu ambiente de trabalho.